sábado, 17 de julho de 2010

Carta aberta à presidente do Flamengo, Patrícia Amorim

Cara senhora Patrícia Amorim:
Escreve-lhe um botafoguense, depois de ler sua entrevista sobre as atitudes que o Flamengo pretende tomar em relação ao seu ex-goleiro titular.
A senhora, sem dúvida, tem a noção precisa, como dirigente, do custo a ser pago por seu clube por um jogador que um dia foi capitão do time principal, e, ao mesmo tempo, como mãe, da crise instalada nos corações dos torcedores, sobretudo aqueles cujo caráter estão em formação. Por isto, a senhora não fica ao largo, como se o problema devesse se circunscrever à área policial, porque o lugar do Flamengo não é na editoria de crime.
Por estes dias estou lendo o livro bíblico dos Provérbios. Nele aprendemos, por exemplo, que "quem examina cada questão com cuidado prospera" (Bíblia -- Provérbios 16.20). Foi o que a senhora fez ao chamar os "notáveis", a quem ouviu antes de decidir e antes de falar. "A palavra proferida no tempo certo é como frutas de ouro incrustadas numa escultura de prata" (Provérbios 25.11). Parabéns.
Tem sido cada vez mais comum, quase um consenso, que aquilo que o jogador faz fora de campo não interessa ao seu clube e a ninguém, desde que não atrapalhe o seu desempenho em campo. Tardiamente, acabo de ler a biografia de Rui Castro sobre Garrincha, a estrela solitária do Botafogo e que também atuou já mambembe pelo Flamengo. Não fica dúvida que Garrincha terminou como terminou por aquilo que ele fazia fora de campo, desde as influências nefastas do seu pai e amigos desde Pau Grande, sua terra natal.
Os jogadores precisam saber que uma pessoa não se divide; antes, é uma unidade. Isto vale tanto para o plano pessoal quanto para o profissional. Um jogador é também sua imagem. Por isto, os patrocinadores gastam dinheiro com eles: a imagem deles lhes gera dinheiro.
Talvez a crítica lhe venha, por causa do mau-mocismo que anda por aí, mas recebo com satisfação sua disposição, que espero se concretize, em passar a adotar um novo artigo nos contratos a serem celebrados com os jogadores, para obrigá-los a "honrar a imagem e o bom nome do Flamengo" e observar "as regras de boa conduta e imagem pública que lhe são pertinentes". Espero que os outros clubes façam o mesmo, para o bem deles mesmos.
Eles precisam saber que "há caminho que parece reto ao homem, mas no final conduz à morte". (Provérbios 16.25). Ao agir como está procedendo, a senhora indiretamente está dizendo isto aos jogadores, a todos os jogadores de todos os clubes, inclusive os que estão agora na divisão de base olhando para os seus heróis. Que os maus exemplos lhes ajudem a ver que vale a pena ser bom, sabendo que todo o prazer tem o seu preço.
Estou certo também que a senhora e seu clube tudo farão para ajudar aqueles jogadores que, em dificuldades por causa de sua formação ou dos "amigos" que ganjearam (aqueles mesmos que um dia poderão chutá-los como "cães sarnentos" quando não interessarem mais, no dizer um de um advogado do caso em questão), decidirem buscar apoio para viverem de modo responsável e feliz. Afinal, o futebol está de tal forma incluído na vida brasileira que o bem que se fizer ao esporte será um bem para o Brasil. Um Brasil decente passa por um futebol decente.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

CompilDO DO SITE DO JORNAL EXTRA

Orgulho rubro-negro

Presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo publicou artigo no O Globo

Da equipe do site oficial do Flamengo


Em virtude dos acontecimentos das últimas semanas, o presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo, Sylvio Capanema de Souza manifestou, através de um artigo, publicado no Jornal O Globo, na última quinta-feira (15.07), suas considerações sobre a suposta turbulência atribuída pela mídia ao atual campeão brasileiro.

Confira abaixo o artigo completo:

Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer!

Mais de 35 milhões de pessoas cantam com orgulho nosso hino.

O Flamengo é uma nação, que nasceu dentro de outra.

E como toda nação, escreve a sua história, com grandezas e fragilidades, tem os seus heróis e seus vilões, mártires e traidores.

O Flamengo democratiza porque não distingue classes, irmana homens e mulheres, ricos e pobres, negros e brancos, doutores e iletrados. Ele sai às ruas, não se fecha em sedes, sobe os morros, cruza fronteiras, vence o tempo e as distâncias, a todos os seus filhos aproxima, no sentimento de uma só paixão.

Em 15 de novembro de 1895, quando foi fundando o Flamengo, algo mágico ocorreu, um destes inexplicáveis momentos que constroem a eternidade, que rompem a simples cronologia do tempo, e que são a centelha de energia que faz e que escreve a historia das nações.

Espraiou-se pelo país a mística rubro-negra, como uma epidemia às avessas, uma epidemia do bem, com a contaminação do orgulho de ser Flamengo.

Ser Flamengo é um determinismo biológico. Nós nascemos rubro-negros, crescemos rubro-negros e morremos rubro-negros.

Ele é sonho que se sonha nas arquibancadas e nos palácios, é remanso e corredeira, realidade e utopia, o ontem e o amanhã, porque para nós, rubro-negros, ele é tudo.

O Flamengo não se explica, nem se define. Apenas se sente, como são sentidas as paixões.

Ele não se oferece a nós, nós é que nos oferecemos a ele. Não nos cobra a vida, nós é que lhe doamos o corpo e a alma.

O lamentável episódio que envolve o goleiro Bruno atinge, como não poderia deixar de ser, o Flamengo, mas deve ser compreendido em suas reais e jurídicas dimensões.

Não se pode condenar o Brasil por que tivemos um Calabar, nem a Alemanha pelo que fez Hitler. Judas não tornou desprezível toda a raça humana.

Bruno, seja o que tenha feito, e apesar das glórias e títulos que nos ajudou a conquistar, não é o Flamengo, e não age em seu nome.

O Flamengo também é Zico, Júnior, Zizinho, Andrade e Rondinelli. É ainda César Cielo, Patrícia Amorim (natação), Oscar Shmidt, Marcelinho (basquete), Buck (remo), Diego e Daniele Hipólito (ginástica olímpica), e tantos outros que construíram sua grandeza, conquistando títulos nacionais e internacionais.

São milhões de torcedores, que comemoram com orgulho as vitórias e sofrem estoicamente as derrotas.

As inúmeras piadas, perversas e de mau gosto, que circulam pela internet, não atingem apenas o Flamengo, que está muito acima delas, mas desrespeitam muito mais a dor dos que amavam a vítima e amesquinham quem as cria ou as transmitem na censurável comemoração do macabro e da desgraça.

O Flamengo sofre e sangra com a vítima, não brinca com o crime, não absolve os culpados, mas não pode ser com eles condenado.

Bruno, ou quem quer que seja, jamais conseguirá matar o Flamengo!